A cultura dos trolls tem raízes profundas na história da Escandinávia, especialmente na Noruega. Os primeiros registros escritos que mencionam essas criaturas remontam ao século XIII, durante o período medieval, nos textos das Sagas Nórdicas e da Edda em prosa, compiladas por estudiosos islandeses como Snorri Sturluson. Esses textos descrevem os trolls como seres gigantescos e perigosos que habitavam florestas escuras e regiões montanhosas, em contraste com os deuses e humanos das histórias.

Com o tempo, durante os séculos XVI e XVII, o folclore oral passou a popularizar essas criaturas entre o povo norueguês. Histórias contadas ao pé do fogo em pequenas vilas retratavam os trolls como seres que deviam ser temidos, mas também respeitados. Eles eram considerados guardiões da natureza e da ordem selvagem, e muitas vezes simbolizavam os perigos de se aventurar longe demais dos limites da civilização.

No século XIX, com o movimento nacionalista romântico na Noruega, artistas e escritores como Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen Moe começaram a coletar contos folclóricos e publicá-los em livros — como os famosos Contos Populares Noruegueses (Norske Folkeeventyr). Foi nesse período que a imagem dos trolls se consolidou como parte da identidade cultural do país.

As ilustrações de Theodor Kittelsen, um renomado artista norueguês da virada do século XX, também desempenharam um papel crucial. Ele retratava os trolls com características únicas — deformados, fundidos com a paisagem, misturando o grotesco e o encantador. Suas imagens são tão icônicas que influenciam até hoje a forma como essas criaturas são representadas na Noruega.

Embora seja na Noruega que os trolls ganharam mais força como símbolo cultural e turístico, versões semelhantes existem em outros países nórdicos. Na Suécia, por exemplo, há contos de “trolls da floresta” e criaturas similares chamadas de vittra. Na Islândia, as lendas se voltam mais para elfos e huldufólk (“povo escondido”), mas compartilham a mesma tradição oral mágica. Já na Dinamarca, os trolls aparecem mais como figuras folclóricas voltadas ao público infantil, especialmente após a popularização dos brinquedos “Troll Dolls” nos anos 1960.

Na Noruega, no entanto, os trolls continuam com um papel especial: eles representam uma ponte entre o misticismo das montanhas e o orgulho das raízes nacionais. Por isso, é comum vê-los em esculturas nas cidades, como em Tromsø, ou nomeando trilhas, cavernas e formações geológicas. Eles estão por toda parte — e não apenas como decoração, mas como parte viva da identidade norueguesa.

Viver essa experiência foi como caminhar entre mundos — o real e o fantástico. A Noruega tem essa habilidade de tornar o cotidiano mágico, e os trolls são prova disso. Eles nos lembram que, mesmo em um país moderno e desenvolvido, o folclore e a imaginação ainda têm espaço.

Ao visitar Tromsø, recomendo que o visitante olhe com atenção para os detalhes. Nem sempre os trolls estão em destaque — às vezes estão escondidos entre estantes ou pequenos jardins. Mas quando você os encontra, é impossível não sorrir.

A cultura dos trolls na Noruega, especialmente em Tromsø, vai muito além de um elemento turístico. É uma parte viva do patrimônio cultural do país, uma ponte entre o passado mitológico e o presente vibrante. Para mim, foi uma das descobertas mais encantadoras da viagem — e que, com certeza, merece um espaço especial aqui no blog.

Se você está planejando visitar Tromsø, prepare-se para encontrar criaturas mágicas a cada esquina. E quem sabe… talvez um troll sorria para você no caminho.